O texto toca na ferida de um modelo de ensino jurídico excessivamente dogmático, calcado na transmissão unilateral de conteúdos e na "escolarização" dos indivíduos. Um ensino do Direito descolado das instâncias fecundas da existência, das paixões, dos afetos, sempre preso às enunciações rígidas de um discurso autoritário que não admite e não reconhece o "outro", como diria Warat. Estamos criando seres "desencantados", incapazes de realmente acessarem a potencialidade do pensar e das emoções, castrados em seus sonhos e reféns das ilusões alheias. Como escreveu Warat: "os homens precisamos recomeçar nossos sonhos e possibilidades de amores, sair da Matrix para refundar, na autonomia, nossa própria trama de ilusões. Temos que reconquistar a possibilidade de ser o autor inaugural das ilusões que sustentam nossos sentidos e desejos. A autonomia em última instância, em ser mais profundo, é a possibilidade de construir por si as ilusões próprias, aquelas que nos permitem atribuir a nossos sonhos, desejos e sentidos o estatuto de realidade. Foi o que sempre Borges nos sussurrou ao ouvido. E Cortázar batizou como a alma dos Cronópios". Ao ler este texto de Luiz, sinto-me tocado pelos Cronópios de Cortázar, imerso nos jardins de Borges, onde as possibilidades se multiplicam e a vida se adensa. Precisamos pensar o Direito desde e para a autonomia, no devir de sua linguagem e sentidos, ou como na síntese do autor: na relação do homem com sua realidade, o que envolve, acima de tudo, o seu contexto existencial. Ou o Direito é pensado desde este lugar da intersubjetividade, ou estará sempre fadado a abstração de seus institutos que pouco ou nada dizem sobre a realidade vivida.